quinta-feira, 20 de novembro de 2003

03.04 Menos-valias

Todos os considerandos anteriores conduzem directamente à seguinte questão: porque é que Marx adoptou a teoria do valor baseada no TEMPO de trabalho ?
Que sentido é que faz falar de “valor de troca” se o acto da troca é pura e simplesmente ignorado ?

Em nossa opinião o valor de troca, tal como Marx o define, foi concebido para evitar o problema das mais-valias negativas ou, se quisermos, das menos-valias.

Com efeito quando incluímos na análise o real escoamento das mercadorias, o seu comportamento no mercado, podemos chegar a uma situação em que o ciclo D-M-D’ produz um D’ menor do que D. Ou seja, se uma dada mercadoria não se vender, o capitalista pode acabar o ciclo com menos dinheiro do que quando o iniciou.

Esta “heresia”, que por absurdo poderia até levar a concluir que afinal “tinham sido os trabalhadores a explorar o capitalista”, devia ser verdadeiramente insuportável.

Era portanto preciso fazer desaparecer esta hipótese. No entanto para poder atribuir valor ao “tempo necessário” [1] e ao “tempo excedente” [1] da fórmula da mais-valia era necessário calcular um valor para as mercadorias produzidas durante esses períodos.
A solução encontrada foi um valor de troca desligado das reais compras e das reais vendas que ocorrem no mercado.

Na teoria de Marx todos os produtos têm um valor de troca “garantido” à saída da fábrica; mas isso é ignorar que por defeitos de concepção, de produção ou de comercialização o produto pode pura e simplesmente não se vender.

Julgamos que não há que temer o enfrentamento com esta questão. Na grande maioria das situações a mais-valia é positiva, e com a fórmula por nós proposta chega a ser até escandalosamente positiva, por isso a questão das menos-valias pode perfeitamente ser considerada um acidente sem significado em termos globais.

Não são, no entanto, as menos-valias a única “heresia” descartada pela teoria de valor marxista; ao eliminar dos cálculos o trabalho fixo, não repetitivo (concepção, engenharia, design, marketing) e ao concentrar-se exclusivamente no trabalho directamente produtivo, Marx evitou também a questão de os próprios patrões, quando eram eles a executar esse tipo de tarefas, também acrescentarem valor às mercadorias.

Actividades como a concepção e a comercialização, por exemplo, não tinham no tempo de Marx, nada a ver com os trabalhadores mas sim com os patrões. Na grande maioria dos casos ainda hoje é assim nas PME’s.

É disso que vamos tratar no próximo capítulo.

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